O maniqueísmo das novelas da Globo e dos
livros de José de Alencar tomou vida e contaminou todo o Brasil.
O bom senso morreu e ninguém compareceu a
seu sepultamento.
Residimos pois num país dividido por uma
(ainda) imaginária cerca eletrificada.
De um lado permanecem os “de bem”, que
são 300% contra Dilma e o PT; culpam Lula, Dilma e o partido dos trabalhadores
por tudo: crise mundial, vitória do “não” na Grécia, fila no banco e doença do
cãozinho; vociferam por um golpe – que nunca acontecerá – e creem piamente que
a corrupção não é um traço social, mas petista. E se aliam a qualquer esgoto
humano se sua chapa for dizimar o PT.
Do outro lado estão os “do bem”, que são
300% a favor de Dilma e do PT; lutam pela canonização de Lula junto ao
Vaticano, isentam Dilma e o PT de qualquer problema ou atitude atrapalhada
sempre colocando a conta dos erros na “governabilidade”; defendem o país de um
golpe – que nunca acontecerá –, comparam até o tamanho dos passos de Dilma com
os de FHC e defenestram a mídia golpista, mas não hesitam em conceder perdões
imediatos a todo reacionário que numa frase fortuita se coloque a favor do
governo.
Além destas duas facções e andando encima
da cerca há 1% dos habitantes do país, equilibrando-se na busca da sensatez –
seja com posições à esquerda de Dilma (como é meu caso) ou à direita dela –
sempre com educação, respeito às instituições e sem paixões cegas que geram
indignação seletiva.
Mas tranquilizemos coxinhas e petralhas:
ninguém nos escuta mesmo daqui de cima; podem seguir bradando louvores de
guerra santa e achando que a solução do mundo é jogar gás mostarda no cachorro
quente do pessoal do outro lado da cerca.
Prometemos não atrapalhar.